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Bíbi Vogel faleceu na manhã do sábado (03/4/2004), em sua casa, às 8h45 - em Buenos Aires (Argentina). Cercada de amigos, tinha 61 anos e seu último pedido foi para comer um doce - galletitta brasileña, que lembrava-lhe o Rio. Nos dois últimos anos ela superou, a cada momento, as dificuldades de uma doença gravíssima: câncer de estômago - que lhe tirou o estômago, partes do intestino e do baço, em 2001. Até sua última mensagem, deu exemplo de coragem e de amor cantando "Gracias a la Vida" (Violeta Parra), mesmo falando dos inúmeros problemas que a acometiam, das dificuldades de locomoção e de respiração e a fraqueza destes dias que passaram. Bíbi Vogel foi homenageada no Centro Cultural do CEDIM (Conselho Estadual dos Direitos da Mulher), Rio de Janeiro, na segunda, 12/4/2004. O corpo de Bíbi foi cremado, como ela mesmo escolheu.
Sylvia Dulce Kleiner Atriz,
cantora e compositora, modelo fotográfico, militante da amamentação e dos direitos
humanos, nasceu
em 2 de novembro de 1942, no Rio de Janeiro, registrada como Sylvia
Dulce Kleiner, filha de imigrantes judeus alemães, fugidos do nazismo e
que vieram para o Brasil, depois da 2ª guerra mundial.
Seu pai era engenheiro e militante socialista e sua mãe cantora
lírica. A mãe deu-lhe o nome em homenagem a Bebe Daniels, estrela dos
anos 20 e 30. "Bíbi", com acento no primeiro "i",
era difícil de ser pronunciado com o sotaque
alemão dos pais, que também admiravam a atriz Bibi Ferreira e
Vogel era o sobrenome de seu primeiro marido, o americano Bill Vogel.
Estudou no Colégio Maria Soares e na
adolescência, o esporte era sua grande paixão.
Além da prática do frescobol nas areias do Posto 4 em
Copacabana, era atleta do CIB - Centro Israelita Brasileiro, onde
praticava vários esportes, entre eles o seu preferido - o vôlei.
Defendendo a camisa do clube, também foi campeã carioca, na categoria
juvenil de Tênis de Mesa e em 1957 ganhou o prêmio de "Melhor Atleta
Feminina", oferecido pelo programa de rádio "Hora Israelita Brasileira".Transferida
para o Fluminense, foi convocada a integrar a seleção carioca para a
disputa do Campeonato Brasileiro Juvenil de Vôlei, em 1959, onde
sagrou-se campeã.
Bíbi Vogel nas capas dos singles 45 rpm "Mas Que Nada" (Jorge Benjor), maior sucesso do grupo nos EUA Com o grupo Sergio Mendes & Brasil 66 Capas
de revistas 1968
- Voltou para o Rio de Janeiro. Terminou a Faculdade de Belas Artes e em
seguida foi para São Paulo com o marido. Lá resolveu aceitar um
convite para fazer um teste para modelo de fotografia exclusiva da
Editora Abril. Foi contratada. A partir daí, deu início a sua carreira
profissional. Durante um ano, foi a modelo mais fotografada do Brasil,
esteve nas capas de várias revistas de moda. A
bela da tela 1969
- Esteve no elenco da primeira montagem do musical "Hair". Co-protagonizou
com Juca de Oliveira a novela “Nino, o Italianinho", com grande
sucesso e "A Fábrica" (1971), ambas da extinta TV Tupi, Além de novelas,
Bíbi
participou de programas de humor e foi apresentadora do programa
"Concertos para Juventude". Entre os anos 71 e 73 fez
diversos comerciais para TV. - Ele Entende de Tudo (detergente
ODD), entre eles. No cinema participou de vários filmes: "Pança de
Valente" (1968), "Bebel, Garota Propaganda" (1968),
"Anuska, Manequim e Mulher" (1968), “Meu Nome é Tonho”
(1969) - com o qual ganhou o Prêmio Governador do Estado de São
Paulo na categoria de "Revelação de Atriz", em 1970, "Elas"
(1970), "Diabólicos Herdeiros" (1971), "Motel"
(1974), “Um Homem Célebre” (1974) - com o qual concorreu ao prêmio
de "Melhor Atriz", no Festival de Gramado, "O pai do Povo"
(1976) - único filme dirigido por Jô Soares, "Ipanema,
Adeus" (1975), "Deixa, Amorzinho...Deixa" (1978) e
"A Morte Transparente" (1979). Esses filmes são regularmente
exibidos pelo Canal Brasil e disponíveis em locadoras. Identidade Amor
de hora marcada Bíbi também morou na Europa.
Aprendeu inglês, francês, espanhol e alemão. Trabalhou em uma fábrica
de balas na Holanda e foi até lanterninha de cinema na Inglaterra.
"Quando voltei ao Brasil, vi que meu trabalho musical não tinha
muita repercussão" - conta. "Mas gravei alguns compactos,
aqueles pequenos discos de vinil."
Ela foi a primeira cantora a gravar composição de Guilherme Arantes,
alguns meses antes de ele próprio se lançar, com um LP do grupo Moto
Perpétuo.
"O Guilherme estava estudando, pra fazer vestibular de
arquitetura e já tocava. Eu pedi ao Bruno, um amigo, pra colocar
música em 3 letras de minha autoria: Amor de Hora Marcada, Mofo
e O Anúncio Classificado. O Bruno me disse que não sabia
colocar música em letras, que só sabia fazer as duas coisas
juntas e disse-me que tinha um amigo que é músico e que não tinha
nada gravado ainda. Foi assim que eu conheci o Guilherme Arantes. O
Bruno era amigo meu e do Guilherme e foi ele quem nos apresentou. Eu
amei a música do Guilherme, fiquei realmente fascinada e aí eu dei
essas 3
letras minhas pra ele musicar."
"O projeto
inicial era de se lançar um compacto duplo. A 4ª música seria Daniel
(Jorge Andrade). Paralelamente, eu cantava outra música "Mundo
em Festa" (Marcos e Paulo Sérgio Valle), que já era executada na novela
"Os Ossos do
Barão", da TV Globo. Mas voltando ao compacto, ele acabou saindo só simples, com as duas músicas: Amor de Hora
Marcada e O Anúncio Classificado (lado B). As
outras duas ficaram de fora. Na verdade eu gravei 5 compactos, um deles com essas músicas, mas nenhum aconteceu,
assim, forte, a ponto de chamar a gravação de um LP, que era a jogada
das gravadoras nesta época."
"Me lembro que o pai do Guilherme não estava
muito contente dele fazer música, dele se dedicar à música. Ele
queria que o Guilherme fizesse a faculdade e o fato de eu estar lá,
trabalhando com ele, incomodava um pouco. Não sei se era imaginação
minha." - revelou Bíbi Vogel, em entrevista concedida ao Fanzine Lance Legal,
por telefone (1991). O compacto da Som Livre - raridade em sebos, foi lançado em
março de 1974, no auge do sucesso dos Secos & Molhados. Abaixo
você poderá baixar e ouvir na íntegra as canções da Bíbi musicadas por
Guilherme Arantes, em MP3. A reprodução e o download foi liberado por
Mayra (filha de Bíbi). Nascimento
de Mayra A
amiga do peito Com a filha no peito inicia sua militância na amamentação e poucos
meses depois, engaja no feminismo, defendendo o direito da mulher à
opção por amamentar ou não o seu bebê.
E é defendendo essa “bandeira” que em 1980, por sua iniciativa,
funda, no Rio de Janeiro, juntamente com outras mulheres o Grupo
de Mães Amigas do Peito. A
partir de 1985, com a volta da democracia na Argentina, começa a
trabalhar como voluntária na APDH, Asamblea Permanente por los Derechos
Humanos, de Buenos Aires. Bangkok
1990
- Fez parte da comissão organizadora do
5º
Encontro Feminista Latino-americano e do Caribe, onde organizou a
primeira oficina sobre “Amamentação e o Feminismo”. Em 1993, 1996
e 1999 participou dos três primeiros simpósios argentinos de amamentação,
apresentando trabalhos e vídeos.
E em 1996, convidada pela WABA – World Alliance Breastfeeding
Action, apresentou um trabalho no Congresso em Bangkok, na Tailândia.
Em 1994 participou em Mar Del Plata do Encontro Preparatório para
Beijing, convidada pela organização norte-americana WellStart,
para defender a causa da amamentação junto à plataforma das
reivindicações feministas. Exposição Argentina de Humor Gráfico 1998
- Organizou na APDH – Asamblea Permanente por los Derechos Humanos,
de Buenos Aires, a 1ª Mesa Redonda “Amamentação e Direitos
Humanos”.
E em 2000, no mesmo local, organizou um Ciclo de Vídeo-Debate,
com três encontros com o mesmo título. Em
1999, criou e organizou em Buenos Aires, com o apoio da Sociedade
Argentina de Pediatria, a “1ª Exposição Argentina de Humor Gráfico
sobre
Amamentação”, com a participação dos melhores artistas gráficos
locais. Em
2000 trouxe essa exposição para o Rio de Janeiro, onde foram
incluídos os trabalhos dos mais renomados artistas gráficos
brasileiros, resultando assim na “1ª Exposição Brasil-Argentina de
Humor Gráfico sobre Amamentação”, que foi apresentada durante o
evento
“20 Anos de Peito Aberto”, no Museu da República,
em celebração dos 20 anos de trabalho das Amigas do Peito. Direitos
Humanos Bíbi e os
colegas argentinos militantes dos direitos humanos - outubro/2000. Em
2001 foi incluída pelo CEDIM – Conselho Estadual dos Direitos da
Mulher do Rio de Janeiro, na exposição “O Século XX da Mulher”,
pelo seu trabalho no campo da amamentação. Preconceito Bíbi
sofreu preconceito ao se engajar, nos anos 80, numa campanha nacional,
pela televisão, de incentivo à amamentação. “Minhas amigas diziam
que isso era coisa de pobre ou de índio”, lembrava Bíbi. “Achavam que
eu estava fazendo um mal irreversível à minha filha, que ela iria ser
lésbica por causa dessa intimidade com meus peitos.”
Guilherme Arantes - Fiquei muito
emocionado com a homenagem justa e digna à Bíbi Vogel. Ela foi
uma mulher lutadora, com princípios e ideais inabaláveis. Sofreu com
o preconceito de uma sociedade hipócrita e egóica, que premia as
espertezas e as superficialidades, castigando quem tem algo inovador a
acrescentar. Foi uma amiga leal, uma mulher belíssima por fora e por
dentro, um luxo de pessoa especial. Ter tido algum papel na sua vida
é para mim um privilégio. Saibam todos que, antes de qualquer
pessoa, foi ela quem acreditou em mim e no potencial
transformador da minha música. Devo tudo a ela, e não vou decepcioná-la
jamais, onde quer que estiver. Sei que está muito bem acompanhada,
junto com seus entes mais queridos, Che Guevara, o homem mais lindo
que o mundo já cultuou, Violeta Parra e Elis, as mulheres mais
interessantes e sangüíneas da América Latina. Ela me ensinou e ajudou
a aprofundar o carinho por Taiguara, entre os mais
importantes artistas que o Brasil já teve, me deu força quando
eu mais precisava. Tenho saudades dela, mas não é de hoje. Ela está
e estará guiando meus caminhos aqui na Bahia, com certeza abençoando
um milagre que estou implementando. O tempo dirá. E,
por ela, terei anos e anos de garra e luta, sucesso com certeza,
porque o tempo não pára.
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